Do sítio para a cidade grande
- Giulia Requejo
- 22 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Maria Aparecida conta sobre as dificuldades que passou na vida e o que a motivou a ajudar aos outros

Giulia Requejo
“Meus pais trabalhavam na roça, eu ficava tomando conta da minha irmã. Eu fazia o almoço, colocava numa cesta de bambu e levava para eles almoçarem. Eu fazia tudo isso e só tinha oito anos”
Foi com essa lembrança que Maria Aparecida Camilli Romachelli relembrou da sua cidade natal. Nascida em Dois Córregos, no interior de São Paulo, morou até os 11 anos em um sítio, junto ao seus pais e sua irmã. Rodeada pela natureza e animais, sua infância foi sem estudos e acesso à escola.
Namorou João Romachelli durante sete anos, até que aos 21 anos decidiu casar. Mudou-se para São Bernardo, mais especificamente para a Vila Vivaldi. Em uma casa com apenas um quarto e cozinha, Maria Aparecida se emociona a falar sobre como vivia na época. Na rua, só tinham outros quatros vizinhos que viraram uma segunda família para a jovem que passava o dia sozinha. Os laços foram tão fortes, que apadrinhou todos os filhos das novas gerações das amigas.
As dificuldades começaram a aparecer assim que chegou na cidade. Sem luz e água, ela e o marido tinham que pedir tudo “emprestado” para os moradores do lado. O sonho de ser mãe ainda existia, e na Vila Vivaldi nasceram os dois meninos, João Celso e Fernando.
O ex-prefeito de São Bernardo à época, Lauro Gomes promoveu um projeto de doação de enxovais organizado pela esposa Lavínia Rudge Ramos Gomes. Maria Aparecida ganhou fraldas descartáveis, roupas, lenços e produtos de higiene para bebês, que auxiliaram no início da criação dos filhos. Trabalhou como faxineira para que seus filhos pudessem estudar. E hoje ela conta que, no total, eles possuem quatro faculdades e lhe “deram” quatro netos maravilhosos.
Maria Aparecida sempre teve paixão pela confeitaria, fazendo, inclusive, o bolo de seu próprio casamento e o de seus filhos. Aos 56 anos, trabalhou na loja de doces do filho, quando o estabelecimento necessitou ser fechado. Sem nada para ocupar as horas vagas do dia, a decisão de ajudar ao próximo tomou conta de si. Maria Aparecida decidiu contribuir nos recursos doados aos projetos sociais da igreja. Montou uma barraca de bolos e, no dia 16 de cada mês, ela vende seus doces.
Inspirada em Lavínia Ramos, mulher de Lauro Gomes, e com a ajuda do padre Sérgio, pároco da igreja Santa Edwiges, ela criou também o MAV (Movimento Amor à Vida), para dar enxovais às mães que necessitam da ajuda. Todo fim de ano ela organiza as sacolinhas de natal, no qual cada voluntário escolhe uma criança para apadrinhar e doar um sapato, uma roupa e uma caixa de bombom. E a igreja completa o kit com uma cesta básica.
“Dei uma sacolinha de natal para um garotinho num final do ano. Ele tinha plantado um pezinho de jabuticaba e, na hora que eu dei a sacolinha, ele me abraçou e me deu o pezinho de jabuticaba, que está até hoje lá em casa”.
Com 78 anos e uma vida já feita, o que motiva Maria Aparecida é ajudar o próximo. Auxilia sua irmã que é surda e muda, e juntas, cuidam dos trabalhos voluntários da Igreja Santa Edwiges. O seu maior sonho é que o projeto MAV possua uma psicóloga para acompanhar as mães durante a gravidez.
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